quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Respirando e comendo agrotóxicos

O setor agropecuário brasileiro é um grande produtor de divisas para os estados e para o Mundo. Enraizado em um modelo convencional ou patronal de agricultura mecanizada, em grandes latifúndios e centralizada em tecnologias para diminuir o custo e a mão-de-obra há uma grande necessidade de introdução de insumos agrícolas no ambiente. Destaca-se aqui o uso dos agrotóxicos. Estes são substâncias químicas naturais ou sintéticas, utilizadas para matar, controlar ou combater de algum modo às pragas, doenças e ervas invasoras das lavouras e nos animais destinados ao abate. Os agrotóxicos são um dos meios mais importantes utilizados pelo ser humano para exercer o controle sobre os agroecossistemas. É um insumo moderno que integra o pacote tecnológico decorrente da chamada “revolução verde”.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em 2009 o Brasil está entre os maiores consumidores mundiais de agrotóxicos. A utilização em grande escala de substâncias químicas vem trazendo, há várias décadas, muitos danos à saúde ambiental e ao homem.

Observa-se que no Brasil há em todas as regiões o uso de agrotóxicos e que o predomínio em larga escala se situa nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com predomínio em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, inclusive com grande relevância em alguns municípios do Centro-Oeste nos estados de Goiás e Mato Grosso.

Como conceber consumir água e alimentos onde os agrotóxicos que são utilizados para fins agropecuários? Sabe-se cientificamente que estes podem infiltrar e chegar aos ambientes aquáticos, por intermédio do escoamento superficial, nos locais onde se aplicam para fins agrícolas. Leva assim, a contaminação aos lençóis freáticos, ou seja, além de afetar os cursos d’águas superficiais, onde se torna muito difícil a descontaminação. E os alimentos que vão à nossa mesa? Estes também estão impregnados de agrotóxicos. Já foi encontrado até em leite materno. Que absurdo e calamidade pública vive-se neste país.

Muitas pesquisas acadêmicas sérias e com rigor científico provam que a quantidade de agrotóxicos na água é geralmente baixa, mas o grande problema é que mesmo assim em pequena quantidade pode oferecer muitos riscos a saúde de animais aquáticos, plantas, e lógico, para o homem, visto que pode ocorrer biomagnificação (acúmulo ao longo da cadeia alimentar).

Deve-se pensar que os efeitos insalubres causados pelos contaminantes nos organismos circulam e acumulam ao longo das cadeias e dos demais componentes dos ecossistemas. Consumindo, bebendo ou comendo, o homem absorve diferentes quantidades desses produtos tóxicos, que vão para os tecidos e lá causam complicações e dão origem a enormes problemas respiratórios, sanguíneos e até o aparecimento de câncer.

No caso do estado de Mato Grosso evidencia-se intensa expansão de suas fronteiras agropecuárias. Essa velocidade de conversão de terras reflete as forças sobre os demais recursos ambientais, inclusive os recursos hídricos, através do uso de insumos, principalmente agrotóxicos destinados a agricultura e pecuária. Portanto vamos eleger uma agenda de discussões que vão de encontro a políticas públicas de contenção, fiscalização e proibição do uso indiscriminado de insumos agrícolas. Que se um basta a hipocrisia e ao descaso com o povo brasileiro. Chega de comer e respirar e gestos e contaminantes.



*RODOLFO JOSÉ DE CAMPOS CURVO, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, ecólogo e doutor em Ciências Biológicas pela UFSCar

*LUCIMAR RODRIGUES VIEIRA CURVO - professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, bióloga e mestranda em ecologia e Produção Sustentável pela PUCGoiás

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