O setor agropecuário brasileiro é um grande produtor de divisas para os
estados e para o Mundo. Enraizado em um modelo convencional ou patronal
de agricultura mecanizada, em grandes latifúndios e centralizada em
tecnologias para diminuir o custo e a mão-de-obra há uma grande
necessidade de introdução de insumos agrícolas no ambiente. Destaca-se
aqui o uso dos agrotóxicos. Estes são substâncias químicas naturais ou
sintéticas, utilizadas para matar, controlar ou combater de algum modo
às pragas, doenças e ervas invasoras das lavouras e nos animais
destinados ao abate. Os agrotóxicos são um dos meios mais importantes
utilizados pelo ser humano para exercer o controle sobre os
agroecossistemas. É um insumo moderno que integra o pacote tecnológico
decorrente da chamada “revolução verde”.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em 2009 o Brasil
está entre os maiores consumidores mundiais de agrotóxicos. A utilização
em grande escala de substâncias químicas vem trazendo, há várias
décadas, muitos danos à saúde ambiental e ao homem.
Observa-se que no Brasil há em todas as regiões o uso de agrotóxicos e
que o predomínio em larga escala se situa nas regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste, com predomínio em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio
Grande do Sul, inclusive com grande relevância em alguns municípios do
Centro-Oeste nos estados de Goiás e Mato Grosso.
Como conceber consumir água e alimentos onde os agrotóxicos que são
utilizados para fins agropecuários? Sabe-se cientificamente que estes
podem infiltrar e chegar aos ambientes aquáticos, por intermédio do
escoamento superficial, nos locais onde se aplicam para fins agrícolas.
Leva assim, a contaminação aos lençóis freáticos, ou seja, além de
afetar os cursos d’águas superficiais, onde se torna muito difícil a
descontaminação. E os alimentos que vão à nossa mesa? Estes também estão
impregnados de agrotóxicos. Já foi encontrado até em leite materno. Que
absurdo e calamidade pública vive-se neste país.
Muitas pesquisas acadêmicas sérias e com rigor científico provam que a
quantidade de agrotóxicos na água é geralmente baixa, mas o grande
problema é que mesmo assim em pequena quantidade pode oferecer muitos
riscos a saúde de animais aquáticos, plantas, e lógico, para o homem,
visto que pode ocorrer biomagnificação (acúmulo ao longo da cadeia
alimentar).
Deve-se pensar que os efeitos insalubres causados pelos contaminantes
nos organismos circulam e acumulam ao longo das cadeias e dos demais
componentes dos ecossistemas. Consumindo, bebendo ou comendo, o homem
absorve diferentes quantidades desses produtos tóxicos, que vão para os
tecidos e lá causam complicações e dão origem a enormes problemas
respiratórios, sanguíneos e até o aparecimento de câncer.
No caso do estado de Mato Grosso evidencia-se intensa expansão de suas
fronteiras agropecuárias. Essa velocidade de conversão de terras reflete
as forças sobre os demais recursos ambientais, inclusive os recursos
hídricos, através do uso de insumos, principalmente agrotóxicos
destinados a agricultura e pecuária. Portanto vamos eleger uma agenda de
discussões que vão de encontro a políticas públicas de contenção,
fiscalização e proibição do uso indiscriminado de insumos agrícolas. Que
se um basta a hipocrisia e ao descaso com o povo brasileiro. Chega de
comer e respirar e gestos e contaminantes.
*RODOLFO JOSÉ DE CAMPOS CURVO, professor do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, ecólogo e doutor em
Ciências Biológicas pela UFSCar
*LUCIMAR RODRIGUES VIEIRA CURVO - professora do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, bióloga e mestranda em
ecologia e Produção Sustentável pela PUCGoiás
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