Ávidos
por ampliar as terras cultiváveis, a bancada ruralista e o lobby
agropecuário pesado, maioria no Congresso, deram uma banana para o que
pensa a sociedade brasileira e os ambientalistas e aprovaram o Código
Florestal na quarta-feira passada, 25. Mais grave, a Câmara dos
Deputados conseguiu piorar o texto que saiu do Senado, que, basicamente,
anistia quem desmatou ilegalmente na última década, deixa grandes áreas
que não serão reflorestadas e reduz o que os produtores devem proteger.
Ou seja, aprovaram um texto que incentiva novos desmatamentos. Estudo
da Universidade de Brasília estima que a nova Legislação poderá aumentar
em 47% o desmatamento no país até 2020. O Brasil investe numa
agricultura de fronteira, que avança derrubando tudo o que vem pela
frente, deixa a terra careca, cria uma paisagem monótona e desumana e
que, depois de explorada, está árida.
Embora a Amazônia seja nossa última fronteira, ela não é a única área
ameaçada. Todas as áreas naturais, florestas ou não, podem virar
paisagem do agronegócio. O Brasil será o maior produtor de alimento do
mundo em dez anos, desbancando os Estados Unidos. Essa conquista se dará
com a expansão do agronegócio, um modelo que concentra terras, produz
para exportação, expulsa o povo do campo, depende de agrotóxicos e
monocultivo, gera lucro para transnacionais, mas mantém a fome e a
pobreza no Brasil. O custo de ser o maior país agrícola do mundo é alto —
perda de biodiversidade, êxodo rural, erosão e compactação do solo,
poluição do ar e do solo, redução dos recursos hídricos (a agricultura é
responsável por 70% do consumo humano de água), perda de matéria
orgânica do solo, inundação e salinização de terras irrigadas e
desaceleração da taxa de crescimento da produção alimentar.
É provável que seu filho e a nova geração inteira só conheçam uma
área natural nativa na wikipedia e que se alimentem de produtos
industrializados derivados de meia dúzia de grãos transgênicos. Ser o
gigante agrícola também não significa acabar com a fome, nem melhorar a
qualidade e a diversidade dos alimentos. De acordo com Joel Cohen, chefe
do Laboratório de Populações da Universidade Rockefeller (EUA), entre
2009 e 2010, o mundo produziu 2,3 toneladas de cereais. Do total, 46%
foi para a boca das pessoas, 34% para animais e 18% para máquinas
(biocombustíveis e plásticos). Cerca de 90% da soja cultivada no mundo
serve para alimentar animais. Ele diz que nosso sistema econômico não
precifica gente que passa fome, ou seja, a fome é economicamente
invisível. "Com o que se planta agora, poderíamos alimentar de 9 a 11
bilhões de pessoas, mas 1 bilhão passa fome", afirma Cohen. O sistema
econômico também não precifica quanto vale deixar uma floresta em pé,
manter o solo vivo, deixar o agricultor e o extrativista no campo e
dar-lhe vida digna, preservar espécies vegetais nativas e os animais são
e salvos.
Na mesma noite da aprovação do Código Florestal, eu e minha colega
jornalista e pesquisadora Claudia Visoni palestramos sobre a revolução
dos alimentos durante um festival de aprendizagem. A plateia era pequena
e calorosa e representa a força da resistência e a vontade de
conquistar novos espaços para discutir, fomentar e cobrar o modelo de
desenvolvimento que nós, brasileiros, a massa, os 99%, queremos.
Baseados nos dados do Censo Agropecuário de 2006, comparamos o
agronegócio com a agricultura camponesa. Repare: enquanto um gera 1,7
empregos por 100 hectares, o outro gera 15. Um produz 30% dos alimentos,
o outro 70%. O primeiro utiliza 76% (!!!) das terras, o segundo, 24%.
E, por fim, o agronegócio recebe 84% dos créditos $$$ do governo
enquanto a agricultura camponesa apenas 14%. Insistimos no modelo
agroecológico para crescermos em grandeza ética, cultural, política,
econômica, social e ecológica.
Em junho, o Brasil sediará a Rio+20. Que condições o país tem de
receber chefes de Estado de todo o mundo para discutir a
sustentabilidade planetária, se aprovar, semanas antes, uma lei que
praticamente destrói a conservação da floresta nativa e incentiva a
agricultura de fronteira? Nas redes sociais fervilha a campanha pelo
veto ao novo Código Florestal: #Veta Dilma. Temos que cobrar a promessa
de campanha da presidente Dilma de vetar qualquer reforma que estimule o
desmatamento ou anistie assassinos da floresta. Acho que a presidente
está precisando ser lembrada do que prometeu para se eleger.
Veja aqui a campanha do Greenpeace contra o novo código florestal
Assita ao video da WWF sobre as trágicas consequências do desmatamento para a vida das pessoas no campo e nas cidades
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